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Ando sentindo falta de um pouco de mim

  • Foto do escritor: Marcos Ferri
    Marcos Ferri
  • 9 de ago. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de mai. de 2022

Um dia dos pais sem meu pai


Por Marcos Ferri

Foto: reprodução


Desde que meu pai foi embora disso que chamamos de vida, ou de vida terrena, pois não me permito acreditar na morte, ando sentindo muito sua falta. Falta de conversar sobre aleatoriedades, de algum prato que eu gostaria que ele me explicasse como faz. Da história de alguma música que ouvimos, do nome de um ator, de uma rua qualquer por onde passou décadas atrás.


É... Nossa vida foi de conversar de aleatoriedades. Falar de como escrevi meu livro e ele de quando chegou em São Paulo, de como começou a cozinhar e por qual motivo demorou tanto a dirigir. E eu porque quase nunca pego no volante.


Queria prosear sobre fulano e ciclano da TV, lembrar com ele de como foram as gravações do disco da minha antiga banda e dos shows. Ele estava lá sempre, e em tudo.


Falar de políticos, de passeios.


Falar da vida.


Eu peguei no violão ontem. Faz tanto tempo que não toco. Fiquei triste, pois não lembro como tocar quase nenhuma das faixas que tanto levei ao palco. Ensaiei.


A mão está pesada, não ando me reconhecendo no violão ou na guitarra. O DNA sonoro que sempre presei está um pouco apagado. Eu hei de recuperar.


Que falta faz os meus amigos mais perto. A família. A pandemia roubou isso das pessoas com um pouco de bom senso.


E todo cuidado é pouco. Hoje a ansiedade bateu forte, o trabalho embaralhou na cabeça. A garrafa de café acabou mais cedo e, por conta da agitação, o sabor da bebida não estava tão agradável.


A vida está vazia.


Não tem cinema, não tem parque. Bons restaurantes, boteco com os amigos e shows de rua. Nem de arena...


Conversei esses dias com um velho amigo. A nostalgia é grande pelas coisas simples. Vamos batalhando para não enlouquecer.


Me reconheci um pouco quando compartilhei um texto meu, o rascunho de um novo livro, com algumas pessoas próximas. Ainda era eu. Agora ouço minha antiga banda, desfeita com boas memórias e alguns desafetos. Ali estou eu em boa forma.


Que saudade...


Se os olhos estão marejados eu tento conter, mas não sou só eu.


O ‘pessoal do escritório’ inventou de reunir todo mundo no Zoom. Que choradeira. Não sou só eu que não estou nos melhores dias, mesmo me entendendo como privilegiado.


Também quando temos mais consciência sofremos um bocado a mais. Às vezes sonhamos até com um pouco de ignorância.


Ah, que saudade do meu pai...


Tem sido assim. Mudo de assunto, de foco e lá vem ele como um relampejar na minha memória. No meu coração.


Começou a tocar uma música que fizemos para minha avó. Que outra saudade grande.


A gente nunca parece completo. Por isso não é possível acreditar que a vida seja só isso que conhecemos.


E já diz o verso musical... “hoje sinto sua falta, mas nunca deixarei de te amar...”


Mas dói.


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Eu... um cara de comunicação...

Marcos é jornalista, músico e escritor. Autor do livro "A Linha do Trem" e do conto "A Casa da Praia" (presente na antologia "Possessão"). Ele também foi responsável pelo site Guitar Talks, dirigiu o documentário “O Mergulho Ancestral” e integrou várias bandas, entre elas a Doravante, na qual compôs algumas canções. Entre em contato (marcosferreira.work@gmail.com)!

 

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