O que eu aprendi com o Oscar de 2025
- Marcos Ferri
- 6 de mar.
- 2 min de leitura
A importância da visibilidade e agradar que dá as cartas é o grande trunfo

O Oscar é, sem dúvida, a maior premiação do cinema, mas acompanhar suas campanhas nos ensina que qualidade não é o único fator decisivo. A disputa da edição de 2025 deixou isso mais evidente do que nunca, especialmente com os casos de Ainda Estou Aqui (que trouxe ao Brasil a inédita estatueta de Melhor Filme Internacional – o que é motivo de sobra para comemorarmos) e Anora. Ambos os filmes receberam elogios da crítica e conquistaram espaços em festivais, mas a campanha e a temperatura de seus votantes foram cruciais. No Oscar, não basta ser bom — é preciso saber se vender.
Demi Morore e Fernanda Torres, as vencedoras do Globo do Ouro de Melhor em Comédia ou Musical e Melhor Atriz de Drama, respectivamente, não foram levadas a sério o suficiente pela academia de cinema. Mikey Madison, que faturou o BAFTA, o ‘Oscar britânico’, como os críticos adoram se referir, levou a melhor.
Demi, de 62 anos, viveu na pele o que o roteiro de A Substância, filme que protagoniza, retrata. O etarismo gritou alto. Madison, com seus 25 anos, é, sem dúvida, uma atriz talentosa, mas seu desempenho em Anora, somado a uma trama de qualidade questionável, não trouxe camadas suficientes para competir com Demi e Torres.
O caso de Emilia Pérez e de Karla Sofía Gascón também trouxe outra lição valiosa: a importância da reputação. O filme, que poderia ter se consolidado como um fenômeno, viu sua campanha desmoronar com a polêmica envolvendo sua protagonista. As declarações e atitudes de Gascón durante a temporada de premiações acabaram prejudicando sua trajetória, evidenciando como a imagem pública de um artista pode ser determinante no jogo da indústria.
Esses exemplos mostram que o Oscar não é apenas sobre cinema, mas sobre estratégia, narrativa e percepção. A história que se conta fora da tela pode ser tão crucial quanto aquela que se vê no filme.
O mesmo acontece em outras formas de arte, como a literatura. Quantos livros incríveis já foram escritos e nunca chegaram ao grande público por falta de divulgação? No mundo editorial, talento não é o bastante; autores precisam se tornar conhecidos, construir audiências e marcar presença nas redes, em eventos e na mídia. O mesmo princípio se aplica ao mercado de trabalho: um profissional competente, mas invisível, muitas vezes perde oportunidades para alguém que sabe se posicionar.

No fim, a realidade é a mesma em qualquer setor: "passarinho que não canta, ninguém lembra que existe". O reconhecimento vem não apenas da qualidade do trabalho, mas da capacidade de comunicar sua relevância ao mundo.
Ainda é preciso agradar à conveniência de quem toma as decisões. Que o diga Demi…
É duro, mas é verdade.
E enquanto reclamamos, esquecemos de saudar também o talento de Cynthia Erivo. Pensem nisso.
Agora, vamos parar de lamentar e agradecer pelo que nunca tivemos. Obrigado, Nanda! Obrigado, Selton! Valeu, Walter Salles! Enfim, um bilionário que a gente admira.
Sorriam, ainda estamos aqui!
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