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Os benefícios e as preocupações do home office

  • Foto do escritor: Marcos Ferri
    Marcos Ferri
  • 20 de ago. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 7 de mai. de 2022

Trabalhar fora da empresa exige estrutura física e uma boa dose de autoconhecimento


Por Marcos Ferri

Foto: divulgação


A prática de trabalhar em casa não é algo novo, como muitos podem imaginar. Exercer atividades profissionais dentro do próprio lar sempre foi algo comum na vida de povos em todo o mundo.


Estudos relatam que o ser humano sempre buscou desenvolver as suas obrigações perto de sua morada, no campo ou na cidade, isso quando não conseguia tirar seu próprio sustento atuando dentro da residência.


Atividades comerciais tomaram formatos sendo confeccionados em anexos às moradias. Padarias, quitandas, marcenarias, entre outros tipos de negócio eram estabelecidos dentro ou junto aos cômodos habitados pela família. Uma forma de manter o controle das ações junto às obrigações do dia a dia pessoal.


Fechar o comércio na hora do almoço e ir para a sala ao lado para preparar ou somente comer a própria refeição é costume até hoje de pequenos empreendedores. Isso quando a mesa de refeições também não é o espaço de trabalho de muitos profissionais.


No passado isso era muito mais comum que na atualidade. Esse formato de trabalho sofreu diversas mudanças por conta de inúmeras transformações da sociedade. A revolução industrial nos séculos 18 e 19 foi uma das mais impactantes para o modelo praticado hoje.


Mas contradizendo muitas projeções, na última década o cenário começou a mudar. Com o avanço das telecomunicações, a internet colocou smartphones e computadores cada vez mais na vida das pessoas, possibilitando uma estrutura de escritório convencional pouco distante de uma rotina no balcão da cozinha de apartamento.


Escritório em São Paulo: mais de 1.000 funcionários em home office durante a quarentena (Foto: Germano Lüders/Exame)


Se por um lado temos aparato tecnológico suficiente para comandar negócios em qualquer lugar graças à internet fibra ótica, 4G, 5G, aplicativos de conversas e até para eventos online, ainda falta a muitos de nós adaptação a essa realidade remota.


A pandemia de Covid-19 obrigou pessoas a se isolarem dentro de suas casas. Diversos setores foram impactados e os reflexos já podem ser calculados. A economia dos Estados Unidos sofreu uma contração recorde de 32,9% no segundo trimestre de 2020.


Os dados são do escritório oficial de estatísticas do Departamento do Trabalho (BEA) e foram divulgados na quinta-feira, 30 de julho. No trimestre anterior, a queda havia ficado em 5%.


Essa é a maior contração desde a Grande Depressão, no início do século passado. O Produto Interno Bruto (PIB) em dólares correntes foi estimado em US$ 19,41 trilhões, uma queda de 34,3% (ou US$ 2,15 trilhões).


Já a redução do PIB brasileiro em 2020 deverá chegar a 9,2%, segundo novas estimativas divulgadas pela Cepal (Comissão Econômica para a região).


Se os números são assustadores, uma coisa foi vital para manter o folego de muitas empresas: o home office.

De acordo com uma publicação da revista Exame, para 73,8% das empresas brasileiras, o home office será definitivo após a pandemia do novo coronavírus. Os dados são de uma pesquisa da Cushman & Wakefield, feita com 122 executivos de multinacionais atuantes no país.

O estudo ainda revela que antes do isolamento social, 42,6% das companhias nunca tinham adotado o trabalho remoto. Já 23,8% das empresas entrevistadas, o teletrabalho ainda estava em análise. Para 29,5% dos executivos, as instituições devem reduzir o espaço físico por causa do home office. Questões econômicas causadas pela pandemia são para 15,6% uma justificativa para a diminuição.

Obviamente, muitos trabalhadores não conseguem colocar sua atividade em home office, gerando aglomerações pelas ruas e no transporte público. Para um boa parte dos atuantes no comércio, indústrias, além profissionais com atividades manuais e mais um grande leque da fatia do mercado formal e informal, isso é apenas uma utopia distante.

Por outro lado, muitos trabalhadores foram obrigados a provar o sabor do home office, gostando ou não. Vários deles provavelmente não devem retornar para os escritórios ou entrarão em regime híbrido, dividindo sua atuação nos dois ambientes. Uma economia para as instituições, que poupam com vale transportes, alimentação e custos de administrar um espaço físico.

No entanto, para conseguir levar o trabalho para casa, essa parcela da sociedade deve se preocupar com alguns pontos.

 

Como atingir resultados na prática

Foto: divulgação


Para o psicólogo Jefferson Mercante, algo primordial é a organização dos espaços. “A pessoa precisa de um espaço determinado no qual ela se sinta produzindo profissionalmente. Não existe um home office no qual a pessoa esteja sentada na sala, num cantinho com TV ou rádio de fundo”. De acordo com o Jefferson, essa mistura de locais de lazer e trabalho geram um conflito de foco.


“É importante regular os horários de atuação e pausa. Saber que um café precisa de 15 minutos, ou seja, é necessário ser mais regrado do que na própria empresa”, lembra o psicólogo.


Quem não está acostumado com essas regras pode ter dificuldades com o controle das ações rotineiras. Nesse ponto existe uma linha tênue entre a distração e o excesso de trabalho.


Meu escritório é a minha casa


Em uma sociedade acostumada a vangloriar o workaholic, é necessário reforçar a atenção para fugir das armadilhas de viver para o trabalho e transformar o próprio lar em um local de luz fria e distante.


Da mesma maneira como é vital não se distrair com as tentações do conforto de casa, o mesmo vale para os profissionais que se habituaram a prolongar diariamente os expedientes. Se no escritório já era comum acumular horas extras, há um risco evidente do profissional abandonar a própria vida pessoal e se afogar nas demandas do trabalho.


“Pegamos muito a cultura ocidental, qual nos exige que sejamos multitarefas. Chega a ser risível a quantia de termos em inglês utilizados no Brasil, algo que só demonstra de onde tiramos essa ideia que precisamos ser workaholics, multitasking e fazermos muitos brainstormings. O tempo todo é glamourizado o sujeito que consegue fazer diversas tarefas ao mesmo tempo”, alerta Jefferson.


“Fazer uma tarefa por vez seria o ideal, mas na realidade isso quase nunca é possível”, lembra o psicólogo. “Cobrar a empresa de fazer esse controle é muito difícil, pois é algo natural da instituição que busca entregar resultados”.

A empresa precisa ajudar o colaborador a regular sua carga horária e criar o que Jefferson Mercante intitula como ilhas de atividades, propondo espaços de descansos prolongados, com atividades de recreação online, entre outras coisas. “É necessário mostrar ao colaborador a sua importância e o cuidado com ele mesmo à distância. Arrisco a dizer que as empresas estão fadadas ao fracasso se elas não investirem no capital humano”, explica Jefferson.


A visão de Jefferson segue a de outros especialistas ao acreditar que as instituições devem se responsabilizar pelo bem-estar do funcionário. “É preciso que as empresas montem a estrutura para a pessoa trabalhar em casa. Mesa e cadeira confortáveis com acesso à internet são fundamentais, além de orientá-lo a encontrar uma boa iluminação e local para desenvolver suas atividades”.


Em muitos casos, o funcionário não tem condições de arcar com esses custos e o empregador deve estar atento a isso e prestar o suporte necessário.


Eu não consigo desligar...


“O aspecto físico é o único que a gente controla. O aspecto psicológico é diferente. Essa questão de casos no qual a pessoal diz não conseguir parar de trabalhar, 'eu preciso responder esse e-mail, eu preciso produzir não importa a hora', é na verdade algo que não vem da empresa em si, vem de nós mesmos”, diz ele.


“Por que a pessoa tem essa necessidade gigante de atender toda e qualquer demanda? Por que ela não pode simplesmente dizer 'meu horário de trabalho é até 18h e irei trabalhar somente até às 18h?' Por qual razão ela precisa atender o WhatsApp a qualquer hora para não se achar a pior profissional do mundo?”, questiona o psicólogo.


Para ele, “essas demandas sociais utilizam justamente a nossa necessidade de agrado que vem de uma falta de carinho ou cuidado. Pode ser um mal desenvolvimento parental ou fraterno que culmina nessa tentativa elevada de agrado. Isso pode ser reconhecido em pequenas ações como a resposta de uma mensagem de celular”.


Podíamos simplesmente dizer não, mas nem sempre é tão fácil. “Na verdade, não estamos somente dando resposta ao trabalho, mas respondendo para a nossa cabeça que não somos inúteis e que dessa forma as pessoas podem gostar mais de mim”, explica Mercante.


“Todos nós sabemos disso, mesmo não conseguindo explicar, mas é algo notório e muito comum em nossas ações. Por essa razão, as pessoas, incluindo no ambiente de trabalho, passam a se aproveitar dessa circunstância. São criadas então normas sociais, aquelas não ditas, e aceitamos essas condições. É importante sabermos dizer não, aprendendo a analisar a melhor maneira para criar esses limites”, diz Jefferson.


Eu preciso ver gente...


Foto: divulgação


Por outro lado, a pessoa pode ter tudo isso à mão, junto ao apoio da empresa, estrutura, local adequado para o trabalho e uma boa dose de privacidade, mas não consegue ter a sensação de estar feliz.


Talvez a pessoa tenha uma boa condição para desenvolver atividades e um cenário para se concentrar, mas algo começa a faltar e a motivação se despede, levando com ela a alegria e atenção, jogando a produtividade pelo ralo.


Algumas pessoas realmente não se adaptam ao home office, precisam ver gente, conviver com outras pessoas de forma presencial. É algo natural, todos nós necessitamos dessa dose de relação humana. Por essa razão, o modelo híbrido é o mais indicado às empresas, possibilitando que o expediente em casa seja revezado ocasionalmente com as idas ao local de trabalho.


Se de todas essas maneiras algo não se encaixa quando você está trabalhando em casa, Jefferson Mercante entrega duas dicas, sendo a primeira procurar ajuda psicológica (as empresas podem e devem colaborar com isso) ou buscar outros ares, pois a felicidade não é igual para todo mundo.


O mundo mudou e vai mudar cada vez mais, porém não podemos nos limitar a um único formato.

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Eu... um cara de comunicação...

Marcos é jornalista, músico e escritor. Autor do livro "A Linha do Trem" e do conto "A Casa da Praia" (presente na antologia "Possessão"). Ele também foi responsável pelo site Guitar Talks, dirigiu o documentário “O Mergulho Ancestral” e integrou várias bandas, entre elas a Doravante, na qual compôs algumas canções. Entre em contato (marcosferreira.work@gmail.com)!

 

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