Pequenas frustrações sorridentes
- Marcos Ferri
- 1 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 6 de mar.
Ou um jornalista de boas notícias...
Por Marcos Ferri

Foto: Shutterstock
Escrever sobre coisas positivas é um infortúnio para qualquer escriba. Digitar com um sorriso no rosto é, no mínimo, penoso. Temos de franzir o cenho quando tomamos o papel. No auge dos 35, estou há quase 15 anos dedicado ao ofício inconsistente da comunicação. Trabalhar com isso é engraçado.
Há quem diga que essa profissão não faz sentido, uma vez que nos comunicamos desde a ventre da mãe. Pra que diploma não é mesmo? Enfim…
Um jornalista de boas notícias. A esse ofício me dedico em boa parte do tempo. Notas agradáveis e motivacionais sobre ideias e projetos, ações louváveis ou coisas à beira da futilidade. Fui institucionalizado, assim como a cerveja artesanal com rótulo industrial since 1800 e tralalá.
Sem esforço ou pressão, ao longo dos anos, fui me tornando um mensageiro de coisas agradáveis, um legítimo representante da positividade tóxica dentro de uma pseudorredação. Textinhos compostos para uma boa imagem e que mal fazem cócegas no algoritmo.
“Tudo o que é ruim de passar é bom de contar”, já dizia o grande Ariano Suassuna.
O sangue do jornalista raiz segue cada vez mais ralo em minhas veias, como molho ao sugo do Spoleto. Contar coisas leves depois de certa idade é sonho de colunistas e cronistas. Esses, sim, merecem todo o respeito. Viva Pratinha, Ruth Manus, Duvivier.
A realidade é um tantinho mais cruel. “Escreva pouco, ninguém vai ler”. “Escreva mais, precisamos de presença na rede”. Bora bombar o LinkedIn, muitas curtidas no Instagram. Facebook? Ah! Tá mortinho, mas os velhinhos gostam.
Tira e edita foto, revisa, diagrama, corta, acrescenta. Queremos projeções, design, marketing. Que tal programar um site? “Bota aspas dos 40 presentes na reunião. Eles não têm nada a dizer, mas é importante que sejam vistos. Mas ó, só três parágrafos”.
“Rumo ao topo do Google!”
Litros de café e sonhando com uma taça de vinho. Boêmia, por que me abandonaste? Boas lembranças dos textos rasurados em cadernos velhos, com caligrafias à beira do ilegível. Eu disse ilegível, não inelegível. Tá bem, parei com a política.
Áurea época de menos boletos, menos status e apenas ideais de justiça e bloquinhos com caneta Bic.
Crianças, não emburreçam. Fujam da faculdade e vão dançar no TikTok. Estou quase indo também.
Ou esqueça o bom dia de sol e taque fogo na fazendinha. Força, guerreiros!
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